Ônibus precisa (voltar a) ser elétrico, e logo
Por Henrique Koifman
Nós, jornalistas especializados, temos falado muito sobre a eletrificação dos automóveis, comentado cada novo modelo híbrido ou EV (somente a bateria) que surge em nosso mercado ou novidades que aparecem lá fora. Mas pouco falamos sobre os ônibus, que em sua imensa maioria aqui no Brasil, utilizam bases mecânicas a diesel e defasadas. Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, a frota de coletivos em circulação no Brasil – e que é responsável por transportar metade da população das maiores cidades brasileiras – é a mais antiga em 27 anos.
Outros números da mesma NTU explicam, em parte, o porquê. Mais de 10,8 milhões de viagens de passageiros deixaram de acontecer entre 2021 e 2022 ainda por conta dos efeitos da epidemia de Covid-19. Mas, qualquer um que se mantenha informado em jornais e portais – ou que seja usuário do sistema de transportes – sabe muito bem que essa crise com os serviços de ônibus é bem mais antiga e que é explícita a diminuição da oferta de linhas e coletivos em praticamente todas as regiões.
O motivo de eu escrever tudo isso começa com um velho provérbio – atribuído ao Dalai Lama, se não me engano – que diz que das grandes adversidades é que surgem as maiores oportunidades. Além da obviamente necessária “revolução” na maneira de fazer e gerir o transporte público urbano (mas isso daria assunto para um livro, no mínimo), o momento seria o ideal para que, ao renovar a frota de veículos, já substituíssemos os antigos modelos a diesel por outros, elétricos, ou, no mínimo, híbridos diesel-elétricos – ou melhor ainda, etanol-elétricos ou GNV-elétricos.
Muitas vantagens
Além de obviamente diminuir o impacto ambiental, com a redução das emissões pelos motores a explosão, usar veículos elétricos diminuiria sensivelmente os custos de operação dos sistemas, não somente por gastarem até sete vezes menos com o abastecimento, mas também pela manutenção extremamente mais simples e barata.
O investimento inicial, claro, é bastante significativo. Hoje, um ônibus elétrico ou híbrido custa bem mais que outro, que utiliza mecânica emprestada por caminhões, geralmente dos mais simples. E isso implica em, no mínimo, em financiamento público. E aqui vale informar que, mesmo no chamado Primeiro Mundo, não há sistema de transporte público no mundo que não conte com subsídios e investimento governamental, seja esse transporte estatal ou privado.
Mas, não, antes que o leitor mencione, eu me adianto, isso não significa prejuízo para ninguém, antes o contrário. Quando o estado gasta recursos para que existam transportes de massa de qualidade, esse investimento volta com, digamos, juros e dividendos, na forma de maior facilidade (e menor custo) para o desenvolvimento de outras atividades econômicas, na fluidez do trânsito (e menor consumo geral, seja de combustível, seja de energia), em saúde (e menos gastos com atendimentos em sistemas como o SUS) e uma infinidade de outros “dividendos” que a melhora da qualidade de vida traz para uma cidade e para o país.
Para terminar e justificar o título, lembro que, aqui no Rio, alguns dos primeiros ôbibus a circularem, ainda no começo do século XX, eram elétricos (foto que abre este texto) E, entre os anos de 1960 e 1970, chegamos a ter linhas de ônibus elétricos em circulação também (acima e ao lado). Àquela altura, eram italianos e usavam um sistema hastes e cabos semelhantes ao dos ainda mais antigos bondes – daí serem apelidados de chifrudos.
Em São Paulo, uns poucos veículos desse tipo, ainda circulam, mas lá a frota de elétricos modernos vem crescendo significativamente (acima). Hoje, já existem ônibus elétricos que não precisam de nenhuma rede de cabos dedicada ou de nenhum outro tipo de adaptação das ruas para circularem.
Além da capital paulista, outras cidades seguem nessa direção, embora ainda estejam longe de serem maioria. Uma delas é São José dos Campos, SP, que colocou não faz muito tempo para circular uma frota novinha deles (abaixo). E aí está sua grande vantagem em relação aos VLTs, metrôs e outros modais, que exigem obras caras para serem implantados, algo fundamental para um país em nosso estágio econômico. Basta retirar os fumarentos ônibus antigos e colocar os novos.
Aqui no Rio, porém, não tenho ouvida NADA sobre a eletrificação da frota. Os depauperados ônibus articulados do BRT, por exemplo, seriam um ótimo começo para e isso.
Quem me passou essas informações foi o Ricardo David, sócio-diretor da Elev, empresa dedicada à soluções de mobilidade elétrica.
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