Fuscas ainda são os maiorais na serra
Simples, (relativamente) baratos, robustos e com aptidão para caminhos ruins, antigos besouros rodam felizes em cidadezinha serrana – e rendem crônica pós-folia
Texto e fotos de Henrique Koifman
Já faz uns bons anos que, no Carnaval, enquanto meus amigos mais animados saem em blocos, escolas de samba e cordões, eu saio é da cidade. Nada contra a folia de Momo, que fique claro. Só não é a minha praia. Aliás, sou mais de montanha que de praia e, por isso mesmo, este ano, embarquei a família no carro que estou testando (um Chevrolet Tracker Midnight, mas isso é assunto para um próximo post) e pegamos as estradas para São Pedro da Serra, distrito de Nova Friburgo (RJ).
E lá, nas ruas e garagens, os carrinhos das fotos que você vê neste post ainda são bem numerosos. Proporcionalmente muito mais do que em nossas cidades grandes, com certeza. De "safras", cores e estados os mais variados, os Fuscas são personagens constante pelas ruas de paralelepípedos e estradinhas de terra (nem sempre em bom estado) e o som de seus motores refrigerados a ar é tão comum quanto o canto da siriema. Por que?
Resposta meio óbvia: o Volkswagen Sedã (seu nome original no Brasil, até os anos 1980, quando a VW assumiu o apelido como marca) foi produzido aos milhões por aqui. Sua primeira geração nacional surgiu em 1959, e o modelo foi fabricado até 1986 – retornando entre 1992 e 96. E uma parte considerável deles, algo que se estima em 2 milhões de unidades, ainda roda por aí. Embora atualmente até seja valorizado por colecionadores, com sorte, ainda é possível comprar um deles "funcionando" e legalizado por uns R$ 5 mil. E, a não ser por alguns detalhes de acambamento, é relativamente fácil se conseguir peças para mantê-lo em ordem, sem gastar muito. Com um pouquinho de conhecimento, o próprio dono pode cuidar da manuteção.
Além disso, não custa lembrar que o carrinho foi criado justamente com a capacidade de circular por qualquer tipo de estrada (e até fora delas). É leve, tem tração e peso concentrado na traseira, bom torque em baixas rotações e boa altura do solo. Com pneus apropriados, especialmente nas rodas de trás, vira quase um off-road. E como nesses cantos e recantos do Brasil a velocidade média não é das mais altas, o Fusca dá conta, tranquilo, Já para pegar uma rodovia com máximas acima dos 80 km/h já fica um pouco mais complicado. Com freios antiquados, instável em certas situações e com um projeto de construção que não contempla os conceitos de proteção para os ocupantes dos automóveis atuais, o que é charme em ruazinhas e caminhos de barro pode até virar risco de vida em estradas e vias expressas.
Fuscas mais recentes, com motor 1.600 são os mais comuns
Um detalhe que me chamou a atenção nos fuscas nesta ida à serra é a quantidade de modelos "mais novos" que estão rodando por lá. Especialmente a geração Itamar – foi no governo do ilustre mineiro, fã do carrinho, que o velho besouro renasceu (em 1993). É claro que, por serem mais recentes, a tendência é que ainda estejam em melhores condições de uso e, por isso, sejam mais procurados para o batente diário (e não apenas para curtição ou coleção). Mas esses últimos Fuscas são também carros sempre equipados com motor de 1.600 cilindradas e 65 cv, o mais potente de sua rajetória por aqui, o que certamente facilita seu uso nasquelas ladeiras ensaboadas. Além disso, esses carros já incorporam certas modernidades, como ignição eletrônica, cintos de segurança retráteis, pneus radiais e barras estabilizadoras na suspensão.
Independentemente da mecânica ou geração, acho que todos os Fuscas são fotogênicos (deu pra reparar pelas fotos?).
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