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A morte do motor a explosão

Esta semana, o parlamento alemão aprovou uma resolução que vai mudar radicalmente a indústria automobilística germânica – e, acho eu, por tabela a de todo o mundo. Em resumo, a tal resolução obriga que o país (aí incluídos governo, sociedade e indústria) tome as medidas necessárias para eliminar o uso dos motores que utilizam combustíveis em seu território. E fixa uma data limite, depois da qual nenhum carro equipado com esse tipo de propulsão possa ser fabricado: o ano de 2030. Pode parecer algo distante, tanto em anos, quanto em viabilidade. Mas não é. E nos atingirá, também, diretamente. Explico.

Os alemães estão na ponta-de-lança do desenvolvimento da tecnologia automotiva desde o princípio. Foram eles – mais precisamente Carl Benz – que embarcaram com sucesso um motor a explosão movido a combustível em um automóvel, pela primeira vez, em 1886 (ao lado). E, não por acaso, têm na indústria automobilística a sua maior fonte industrial de divisas – e basta pensar em marcas globais como Volkswagen, BMW, Mercedes e suas derivadas, exportadas e fabricadas em boa parte do globo para perceber isso. Mas por que, se é uma das líderes mundiais em produção e vendas de carros com motores a combustão, a Alemanha quer bani-los do mercado?

Por que abandonar os motores a explosão?

Para começo de conversa, os alemães foram recentemente balançados (inclusive financeiramente) pelo escândalo das emissões camufladas, descobertas em alguns modelos a diesel da VW nos EUA – mas que, como todo mundo que trabalha no universo automotivo sabe, não se restringem àquela empresa. A poluição dos carros, que já era um efeito colateral incômodo para eles, passou a ser um verdadeiro pesadelo. Além disso, mais do que o simples dever de ter "respeito ao planeta", os engenheiros germânicos sabem que a tecnologia dos propulsores térmicos (outro nome para as máquinas movidas a combustão interna) já está batendo no teto. Motor a combustão, independentemente de seu gerenciamento eletrônico, materiais utilizados ou o que seja, sempre produzirá tanto ou mais calor (que é literalmente jogado fora) que movimento. E sempre poluirá. E isso é virtualmente intransponível. Esses motores nunca serão os mais eficientes. E ponto.

Por outro lado, não fosse a escala de produção, hoje, fabricar carros elétricos já seria mais barato que produzir os a movidos combustão. Sistemas elétricos são menores, mais leves, têm menos peças, funcionam de maneira mais simples, com muito menos atrito e desgastes e são energeticamente muito mais eficientes – sejam eles alimentados por baterias ou por outros sistemas de geração, como células de combustível. Os motores a combustão só foram adotados como padrão, no começo do século passado, porque a gasolina era barata, farta e fácil de se transportar, tornando simples criar pontos de abastecimento ao longo das ruas e estradas e, assim, viabilizando a circulação dos veículos por distâncias maiores e a baixo custo. Hoje em dia, essa realidade mudou e o que começa a se tornar mais barato e fácil de distribuir é a energia elétrica, gerada, entre outros, pelo vento e pela luz do sol, em grandes ou pequenas instalações.

E o mercado inteiro vai acompanhar

Resumindo, os alemães já perceberam que a mudança do mundo para os carros que não utilizam combustíveis é irreversível. E, já que é assim, querem estar na frente do processo. E, para fazer valer seus investimentos, planejam fazer pressão para que toda a Comunidade Europeia faça o mesmo, mais ou menos no mesmo prazo. Afinal, a Alemanha depende dos outros, que compram os automóveis que fabricam, para manter sua economia girando. E é aí que nós, brasileiros, entramos – ainda que num prazo, talvez, um pouco mais longo. A China e o Brasil (em tempos de bonança, claro) estão entre os principais mercados para as indústrias automobilísticas alemães. É difícil imaginar que, em um horizonte um pouco mais longo, haja interesse deles em vender ou fabricar aqui e no extremo Oriente – assim como em qualquer outra parte do mundo – produtos com uma tecnologia totalmente defasada, diferente da que utilizam em sua casa. Especialmente por conta das características pouco ecológicas. É também muito difícil acreditar que os outros fabricantes de carros tentem sustentar a existência e venda de "veículos ecologicamente incorretos" em contraposição aos "limpos" alemães.

Não é para já, claro, mas estamos assistindo, agora, o começo de uma mudança que, como mencionei lá no começo deste já enorme texto, irá afetar a todos nós – ou pelo menos a nossos filhos e netos. Por mim, tudo bem. Já dirigi alguns carros elétricos e sei que eles podem ser divertidíssimos.

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