O verdadeiro Mustang elétrico não será Ford
Por Henrique Koifman
Não sei quanto a você, mas quando, há alguns anos, a Ford anunciou que lançaria um Mustang elétrico, eu imaginei que ele seria uma versão “limpa” de emissões daquele esportivo clássico, nascido em 1964, produzido até hoje e que é um dos ícones mais reconhecidos de automóvel de todos os tempos. Mas não. Em lugar disso, o que acabou surgindo foi (mais) um SUV ou crossover – termo em inglês para a mistura de estilos e segmentos –, alto e meio desengonçado. Trocaram o clássico pelo momentâneo, esperando abocanhar uma parte da grande parcela dos consumidores que tem preferido os utilitários esportivos a outros tipos de carros. Parodiando Raul Seixas em seu antológico “Ouro de Tolo”, confesso abestalhado que fiquei decepcionado.
Pois, já que a Ford não se interessou em eletrificar o Mustang como um carro esporte, a empresa inglesa Charge Cars resolveu assumir essa missão. E, como ela não precisa seguir lógicas de escala de produção – e nem teria permissão legal para fazer isso –, em vez de partir de um modelo atual do carro, escolheu como ponto de partida o desenho daquela que para muitos (eu, inclusive) é a mais bela de todas as suas gerações e versões: o 1967 fastback. Aquele, que se celebrizou de vez guiado pelo ator e piloto Steve McQueen no clássico do cinema Bullit, de 1968.
O nome do carro, aliás, é justamente ‘67. Mostrado no Salão do Automóvel de Los Angeles, em novembro deste ano, o modelo chamou bastante atenção. A despeito se sua grande semelhança ao Ford original, ele foi desenvolvido “do zero” pela Charge e incorpora tecnologia de ponta, tanto no que diz respeito a sua estrutura e equipamentos de segurança e conforto, quanto em termos de propulsão e desempenho.
Com tração nas quatro rodas, ele oferece uma potência total de 544 cv, com 155 kgfm de torque. Segundo a fábrica, o carro é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 4 segundos e tem autonomia para até 320 km de autonomia, quando equipado com baterias de 63 kWh (haverá pacotes de maior capacidade).
Pelas fotos, dá para perceber que o acabamento do interior, em couro, é do tipo topo do topo de linha semi-artesanal, combinando aquele jeitão dos modelos dos anos 1960 com telas e teclas dos 2020’s.
No site da charge – https://charge.cars/ – você pode conferir mais detalhes sobre o carro, por dentro e por fora, em animações que incluem vistas explodidas do carro, mostrando como e onde estão instalados seus componentes. E ver até cenas de sua linha de montagem, o que prova que ele já passou daquela fase “conceitual” que na maioria das vezes esses carros de sonho estacionam para nunca mais saírem.
A esta altura, você provavelmente está se perguntando se a Ford não pode processar e impedir a Charge de usar o desenho de um produto seu comercialmente. Pelo que pesquisei, assim com outras patentes de produtos, a dos carros têm prazo de validade. Aqui no Brasil, por exemplo, é possível fabricar legalmente réplicas de carros que tenham saído de linha há pelo menos 30 anos, respeitando certas condições – como a de produzir em pequena quantidade, por exemplo. Presumo que, na Inglaterra, vigore uma norma semelhante.
Não encontrei no site da Charge a indicação do preço que será cobrado pelo ‘67, mas presumo que deva ser bem alto, o que implicará uma produção reduzida. Mas eu bem que gostaria de ter um deles na garagem. Deve ser divertidíssimo de dirigir (aliás, na foto abaixo, dá para notar o pneu sujo, indicando que o carro já foi usado por aí) e, ainda por cima, tem esse desenho de carroceria, um dos mais bacanas já criados.
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