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Será que o Kicks X-Play vale a pena?

Um test-drive com a série especial limitada do SUV compacto da Nissan


Texto e fotos de Henrique Koifman



Durante uma semana, tive um Nissan Kicks 2024, em sua versão especial X-Play, como meu carro e uso diário. Além dos trajetos urbanos habituais, fiz uma pequena viagem com ele e até rodei um trechinho em (boa) estrada de terra. No total, foram pouco mais de 350 km de convivência e falo um pouco sobre eles neste post.


A X-Play é uma série especial e limitada do Kicks, que a Nissan tem colocado anualmente no mercado há três “temporadas”. Desta vez, ela chegou com mil unidades disponível para o Brasil (parte da produção é exportada), ao preço sugerido de R$ 140 mil. Na prática, o carro é uma derivação mais caprichada da versão intermediária Advance Plus do Kicks – que custa cerca de R$ 2 mil a menos que ele.



Os principais diferenciais do X-Play são estéticos, como um (belo) aerofólio traseiro no teto, pintura da carroceria em preto, com teto e detalhes – como as coberturas dos espelhos e linhas na lateral e sob a saia dianteira – em vermelho, rodas de liga leve de 17 polegadas com pintura em preto brilhante, faixas de inspiração esportiva nas laterais, badge (logomarca) da versão na tampa traseira e uma pequena placa (ou tag), como com o número de cada exemplar colocada discretamente na grade dianteira.



E ainda um interior também exclusivo, com soleiras das portas dianteiras personalizadas, uma combinação de cores e acabamentos diferenciados – as saídas do ar-condicionado e parte das alças das portas são vermelhas e os bancos trazem um “X-Play” estampado em relevo e costuras em vermelho, por exemplo. De “extra”, um carregador sem fio para o celular – que, no entanto, precisa de um cabo para ser conectado via Apple Car Play ou Android Auto à central de multimídia.




No mais, ele conta com o mesmo pacote mecânico de todas as outras versões atuais do Kicks, ou seja, motor 1.6 de 16 válvulas flex, que gera até 113 cv de potência e 15,3 kgfm de torque, com câmbio automático do tipo CVT (continuamente variável) que simula seis marchas. Um bom pacote, mas que permanece, também virtualmente inalterado desde o lançamento do carro, em 2016. Aliás, aqui embaixo você encontra o vídeo que fiz com o carro justamente naquele ano, e no qual mostro uma série de características suas que se mantém igualmente idênticas. (Link para o vídeo https://youtu.be/vdYunDcjouw)





Vamos pôr esse Kicks X-Play em marcha


Como de hábito, a primeira parte de meu test-drive foi feito em ciclos urbanos – um nome mais charmoso para o nosso bom e velho trânsito, quase sempre amarrado, em ruas mais ou menos acidentadas, e algumas vias expressas também. Já fazia um bom tempo que não dirigia um Kicks, mas, em poucos quilômetros, pude rebobinar a maioria de minhas impressões anteriores sobre o modelo.



De um modo geral desenhado em esquema simples, mas “bem bolado”, o interior desse SUV compacto, a despeito do “império do plástico”, é agradável e passa uma boa sensação de espaço. Painel de instrumentos (mezzo digital, mezzo analógico) e outros comandos têm boa visibilidade e acesso e são muito fáceis de se entender e usar, pois seguem uma lógica bem intuitiva. Bom, parte dessa facilidade está relacionada à simplicidade, claro, pois não há tantas telas e informações para se escolher ver, nem tantos acessórios ou recursos para se acionar. Mas o básico está lá, o ar condicionado dá conta do calor – e, na maior parte do tempo, ele estava acima dos 30 graus –, embora não exista saída de ar para o banco traseiro; o som da multimídia é bom e os bancos oferecem um conforto acima da média, mesmo sendo igualmente simples.



A posição de guiar é boa, com boa visibilidade do que rola lá fora e, ainda que não seja tão compacto assim – ele tem quase 4,3 metros de comprimento e pouco menos de 1,80 de largura – o Kicks chega a impressionar pela facilidade de manobra. Mesmo sem aquele sistema de câmeras em 360º de suas versões mais caras (neste, há apenas a traseira), esse SUV é mais fácil de se estacionar que boa parte dos hatches compactos que conheço.



Como é se se esperar, com motor 1.6 aspirado “tradicional” de números comportados, o Kicks não é particularmente rápido, mas tampouco é amarrado. No geral, tem torque suficiente para rodar em recomendável silêncio, e basta encostar no acelerador para ele começar a se mover prontamente, com reações suaves, fáceis de se controlar e bem na medida para o trânsito. Quando você precisa de mais ímpeto, no entanto, os decibéis saem da toca. Isso porque, para obter mais da potência que esse propulsor oferece, “abrindo” o seu segundo jogo de válvulas (elas são 16, quatro por cilindro, mas só duas delas funcionam em giros mais baixos) e alimentando um pouco mais os canecos, é preciso pisar mais fundo. Assim, arrancadas e retomadas mais ligeiras são sempre acompanhadas de um rugido expressivo, mais ou menos constante, enquanto o câmbio CVT cuida de fazer avançar suas seis marchas simuladas.


Sinceramente, não percebi quase nenhuma passagem dessas gradações e não há possibilidade de fazer essa subida de velocidades manualmente (não há borboletas no volante, posição na alavanca ou mesmo uma daquelas teclinhas de seleção por ali). Minha percepção foi também mínima em relação aos efeitos do diminuto botão sport do câmbio, que, em tese, altera o regime de funcionamento do conjunto, aumentando sua disposição. Ainda assim, esse conjunto faz com que o Kicks se movimente com certa agilidade e em momento algum senti faltas significativas de desempenho.





Nem mesmo quando peguei a estrada com ele, alguns dias depois, em direção a Guapimirim, aqui no Estado do Rio. Trajeto plano e que inclui boas rodovias de pista dupla – BRs 040 e 116 –, onde a velocidade máxima, boa parte do tempo, é de 110 km/h. E nesse ambiente, de forma até surpreendente, o carrinho mostrou fôlego suficiente, não só para manter médias elevadas (sem tanto ruído), como para ultrapassagens sem maiores aflições (mas com ruído, que acaba cansando um pouco). Nada que o coloque no mesmo patamar de rivais mais potentes de seu segmento – como o Jeep Renegade, o VW T-Cross, o Chevrolet Tracker e as versões de intermediária para cima do Fiat Pulse, todas turbinadas e mais bem-dispostas, mas também nada que o desqualifique.


Mesmo com seus 20 cm de altura livre em relação ao solo (maior, por exemplo, que a do Jeep Renegade), o SUV compacto é bem estável e passa segurança em curvas e manobras mais rápidas, como mudanças de faixa ou desvios de buracos. A suspensão é bem calibrada e, de um modo geral, o rodar dele é bem confortável, mesmo em pisos menos regulares – como paralelepípedos e o pequeno trecho de terra em que passaria mais tarde.



A viagem serviu também para usar o bom espaço para bagagens do Kicks – 432 litros, algo que o coloca em vantagem em relação a maioria de seus concorrentes. E me fez comprovar que, a despeito de pertencer a uma geração anterior, se comparado ao da maioria de seus concorrentes, o motor aspirado do Kicks contribui para que ele seja um carro bem econômico.


Mesmo com todos os (muitos e longos) engarrafamentos que peguei pelo caminho, tanto na cidade, quanto na estrada – um deles, no caminho de ida, na Linha Vermelha e parte da Rio-Petrópolis, foi daqueles que fazem até que nos arrependamos de ter saído da garagem de casa. Ainda assim, minha média com ele, ao final de pouco mais de 350 km rodados foi de 11,8 km litro de gasolina, com segmentos específicos de até 11 km/litro na cidade e de até 15 km/litro na estrada.



Afinal, o Nissan Kicks vai sair de linha no Brasil?


Desde que foi lançado aqui em 2016, tendo como “gancho” os jogos olímpicos do Rio, o Kicks passou por muitos retoques e ganhou alguns equipamentos e melhorias, mas, no básico, em termos de mecânica e construção, continua igual. E, embora não seja propriamente um campeão, vende bem, sendo, hoje, o modelo mais comercializado da marca. Até aqui, foram produzidas em Resende cerca de 326 mil unidades do carro (as primeiras vieram importadas do México) e, somente no primeiro bimestre de 2024, foi registrado um aumento de 23% em suas vendas, contribuindo decisivamente para um crescimento até surpreendente da Nissan em nosso mercado, em 35% no acumulado de 2023 em relação ao período anterior. Hoje, além do Brasil, o modelo é produzido no México, na China, na Tailândia e em Taiwan.


Ainda assim, em março último, a Nissan fez um comunicado à imprensa informando que “O Nissan Kicks atual seguirá em sua trajetória de sucesso no Brasil”. A montadora tomou essa iniciativa porque, alguns dias antes, ela mesma havia anunciado grandes investimentos em sua fábrica de Resende (RJ), onde revelou que produzirá dois novos SUVs. Como o Kicks já tem oito anos de mercado, surgiram especulações (nada absurdas) de que uma dessas novidades viria para substituir o modelo.





E, para colocar mais lenha na fofoca, mais ou menos na mesma época a montadora japonesa apresentou, nos EUA, uma a nova geração do mesmo Kicks. Com desenho futurista e renovado, novidades mecânicas – como um motor turbo e prováveis versões híbridas –, ela deve ser lançada por lá no primeiro semestre de 2025 e, provavelmente, deve também chegar ao Brasil, ainda importada, no ano que vem.


Não sou lá muito bom com bolas de cristal, mas me arrisco a prever que, como prometeu a Nissan brasileira, o Kicks atual vai continuar em linha por, pelo menos, mais uns dois anos, em versões da mais simples e intermediárias – enquanto a nova geração, vinda do México, ocupará a parte de cima da tabela, com as opções mais sofisticadas. Depois, quem sabe já no primeiro semestre de 2026, esse novo Kicks passará a ser produzido aqui, finalmente aposentando o modelo atual, que bem pode ganhar uma série especial de despedida, celebrando também seus 10 anos de vida. A conferir.




Minhas conclusões sobre o Nissan Kicks X-Play 2024


“E então, Dr. Rebimboca”, depois disso tudo posto, você compraria um Nissan Kicks da série X-Play 2024?” Sendo sincero e objetivo: sim, eu compraria – ou, pelo menos, o colocaria entre as opções para um SUV compacto, caso este fosse o segmento de minha escolha. Esse X-Play reúne todas as qualidades do modelo – boa dirigibilidade, docilidade, confiabilidade (e baixo custo de manutenção), consumo camarada, espaço interno, bom valor de revenda… E, mesmo não sendo torcedor do Flamengo – ou de outro time que use o vermelho e o preto (única opção disponível) em seu uniforme –, gostei bastante o tratamento estético que, afinal de contas, diferencia essa série das outras versões do carro.


Tão bacaninha que faz com que um monte de gente na rua pare para olhar para ele com admiração – um feito notável, se lembrarmos que, mesmo com a frente redesenhada (em 2021), o Kicks é um modelo que já tem oito anos de mercado e é uma figurinha pra lá de fácil de se ver em nossas ruas. Curti.

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