Que tal o Honda City Hatchback 2023?
Por Henrique Koifman (texto e fotos)
Disputando o subsegmento dos hatches compactos “premium” de nosso mercado, o Honda City Hatchback foi lançado no ano passado junto com a nova geração de seu irmão sedã – sobre o qual, aliás, já escrevi aqui e até fiz um vídeo para a TV Rebimboca, que você pode assistir neste link ou na janela abaixo. Agora, passei uma semana com sua versão mais cara do hatch, a Touring, que em termos de mecânica, itens de conforto e de segurança, é idêntica ao “mano” de três volumes, sobre o qual já falei bastante – e, portanto, peço antecipadas desculpas por não me aprofundar muito nisso neste post. Vou tentar me concentrar no que ele tem de diferente, ok?
“Não é a mamãe”
De vez em quando, a mente da gente – ou, pelo menos a minha – faz umas associações engraçadas. A frase aí em cima foi resgatada pela minha memória diretamente do seriado americano “Família Dinossauros” início dos anos 1990, que, confesso, pouco assisti. Pelo que me lembro, funcionava como um bordão de um bebê em relação ao seu pai – a quem obviamente rejeitava por não ser a mãe, esta sim sua preferida. Pois bem, o Honda City Hatchback não é o seu finado (pelo menos aqui no Brasil) e querido parente Fit.
Com uma configuração praticamente exclusiva, o monovolume fabricado aqui até o final de 2021 conquistou uma legião de compradores fiéis com atributos como praticidade, confiabilidade, originalidade, conforto e espaço – do tipo “parece maior por dentro do que é por fora”. Com um projeto bem diferente, este Hatchback até se equipara ao “finado” nos três primeiros itens da lista, mas definitivamente não se identifica muito com os dois últimos – especialmente em termos de capacidade do porta-malas.
Isso porque, com uma distância entre-eixos 7 cm maior que o seu antepassado, o hatch até oferece mais espaço para as pernas de quem viaja no banco de trás – ótimo espaço, aliás. Mas leva apenas 268 litros de bagagens no porta-malas, quase 100 litros a menos que o Fit (que levava 363).
Trago essa comparação logo para o começo da história porque, pra mim, ela deve ser a grande questão para quem pretende trocar de Honda para Honda, de Fit para City Hatchback. E aí vale comentar que, quando você dobra os encostos do banco traseiro no hatch, essa diferença de gerações parece quase sumir.
Isso porque, provavelmente pensando nos órfãos do monovolume, a montadora incorporou no modelo mais novo aquele fantástico sistema de recolhimento dos bancos, que quase que num passe de mágica, multiplica o espaço e cria um verdadeiro baú de minivan na traseira do City, com poucos – e facílimos – movimentos.
Andando é melhor
Mas se perde como utilitário, o City Hatchback ganha com folgas do Fit – e até de seu irmão sedã – em prazer de dirigir – e, ouso dizer, em dirigibilidade, como um todo. Como já comentei em relação à versão três volumes, o motor 1.5 flex de 16 válvulas (o mesmo que era usado no monovolume) recebeu algumas providenciais atualizações e incrementos, como a injeção direta de combustível, e ganhou uma dose extra de fôlego. São até 126 cv de potência e 15,8 kgfm de torque que, pedem um pouquinho mais de acelerador para mostrar serviço do que concorrentes turbinados, mas que dão conta do recado com alegria, até.
Vá lá que o também melhorado câmbio automático CVT não é lá muito chegado a uma tocada mais esportiva. Mas não segura tanto as rotações do motor o carro arrancadas ou pisadas mais fundas no acelerador, e ele não só deslancha bem, como passa essa sensação. E, como o City traz paddle shifters (as borboletas atrás do volante), permite trocas manuais de marchas (ele simula sete delas) e ainda oferece uma programação um pouco mais “esperta” com uma tecla sport, pode ficar até bem divertido dirigi-lo de forma um pouco mais arrojada.
Para completar, o ajuste da suspensão é digno de elogios, mantendo o carro bem firme em curvas abertas ou fechadas. E, aqui, esse hatch se destaca em relação ao irmão sedã.
Talvez pela distribuição de peso, ou mesmo pela calibragem da suspensão traseira, o hatch passa uma sensação ainda melhor de equilíbrio e parece ser mais ágil. Some a isso o som bacaninha do motor em giros mais altos, uma direção bem precisa e direta e um banco que apoia muito bem o corpo (e que pode ser ajustado para ficar bem baixo, criando uma posição de dirigir “de carro esporte”), e o resultado é uma boa dose do tal prazer de dirigir. E isso, me desculpem os fãs, o Fit não tinha, não.
Linhas bacanas
Deixei para falar do design do City Hatchback por último, mas não foi por desprezo. Em comparação com o visual da dianteira – que é algo agressivo e cheio de personalidade –, a traseira beira o bem-comportado e não destaca tanto o carro no mar de modelos atuais, todos com lanternas em formatos semelhantes e proporções parecidas. Mas essa quase mesmice é compensada pela bela silhueta lateral do modelo, que passar uma sensação de velocidade e de arrojo.
Por dentro, os desenhos dos painéis e mostradores ficam no simples e sofisticado, de bom gosto, com plásticos de boa aparência e agradáveis ao toque e um painel de instrumentos que combina bem mostradores analógicos com uma tela configurável que traz as informações necessárias de forma customizável. A multimídia não é das mais sofisticadas, mas é fácil de usar e, além da câmera de ré, mostra imagens de outra, instalada no espelho retrovisor direito e que ajuda a eliminar pontos cegos. Ela é acionada sempre que se liga a seta para a direita, e pode ser acionada de forma permanente por meio de um botão na ponta da mesma alavanca de comando das luzes de direção. No geral, o aspecto de tudo ali é de boa qualidade
E então, o City Hatchback vale a pena?
Por R$ 134.600 (no site da Honda), essa versão Touring do City Hatchback custa mais ou menos o mesmo que versões de alguns SUVs compactos (os queridinhos da vez) e sai mais caro que a versão mais sofisticada de seu principal rival, o conterrâneo Toyota Yaris Hatch XLS (R$ 122.090, no site da montadora).
O concorrente, porém, tem projeto mais antigo e traz menos itens tecnológicos, especialmente os relacionados à segurança – e, nisso, o tal pacote Sensing da Honda é bem interessante, que inclui coisas como controle de cruzeiro adaptativo, de permanência em faixa, comutador automático de farol e frenagem de emergência. Além disso, esse Honda é um carro bem gostoso de se guiar.
Vá lá que ele não tem o porta-malas do velho Fit (nisso, aliás, perde também para o rival, Yaris Hacth, com seus 310 litros de capacidade), mas se você quer um Honda com mais espaço para bagagens, fique com o irmão sedã dele. Se não precisa disso, sim, acho que este City Hatchback é uma boa escolha.
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