GAC chega ao Brasil e lança cinco modelos de uma vez
- Henrique Koifman
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Por Henrique Koifman

Sexta passada fui a São Paulo acompanhar o lançamento no Brasil da marca chinesa GAC. A Guangzhou Automobile Group - GAC é a sexta maior montadora da China, está presente em mais de 70 países e, informa o release da empresa, produziu mais de 2,5 milhões de carros em 2023. Em nosso país, ela já chega sem, digamos, a menor timidez, lançando cinco modelos de uma só vez, e colocando-os à venda 83 três pontos – sendo 33 concessionárias e 50 locais em shoppings. E até dezembro deste ano, a empresa promete ter 120 pontos de venda estabelecidos, anunciando também a implantação de uma linha de montagem local para breve.

Na prática, a GAC já dá a largada no Brasil com uma linha maior que a de muita montadora já tradicional por aqui. no Brasil. São, como disse acima, cinco modelos, um sedã elétrico e quatro SUVs. Destes, três são elétricos e um híbrido.

No evento de lançamento, até vi os carros de perto, expostos em um pavilhão do Anhembi, mas não pude dirigi-los. De toda forma, nesse primeiro contato deu para notar que eles são cheios de estilo – que varia de modelo para modelo. E que têm ótimo espaço interno, bom acabamento e, no geral, bons pacotes de equipamentos e de tecnologia. Vamos aos modelos. Ah, vale explicar que o “Aion” que batiza quatro deles se refere à plataforma modular em que todos se baseiam, ok? Daí que algumas características, como a distância entre-eixos, são comuns a todos eles.

O único GAC que não é SUV é o Sedã Aion ES
O primeiro é o Aion ES (acima). Anunciado pelo marketing da GAC como “um sedã elétrico eficiente com foco em mobilidade executiva”, ele tem porte médio (4,81m de comprimento) e um ótimo espaço interno, graças aos 2,75m de entre-eixos. Lugar no banco de trás para viajarem até três passageiros sem aperto, com bons (mas nem tão impressionantes para seu porte) 453 litros de capacidade no porta-malas.
Esse Aion ES não deve impressionar tanto pelo desempenho, pois é movido por um motor de 136 cv de potência e 22,9 kgfm de torque. Deve andar bem, sem ser exuberante. É alimentado por uma bateria de 55,2 kWh que, segundo avaliação do INMETRO, proporciona a ele uma autonomia de 314 km. O modelo pode ser recarregado em de 30% a 80% em 37 minutos, quando conectado a um carregador rápido (DC de 75 kW).

Custa a partir de R$ 170 mil (R$ 169.990 em numerologia de vendas), e provavelmente terá como rival imediato o conterrâneo BYD King – que é um pouco mais caro, mas é híbrido, o que lhe dá maior autonomia. E, tal como a BYD, para manter o preço mais competitivo, o Aion ES não traz nenhum recurso de assistência autônoma ao motorista (ADAS) – como aviso de ponto cego, frenagem autônoma de emergência ou controle de manutenção em faixa.

Todos os outros modelos da linha da GAC são, como comentei lá no começo, SUVs. E o primeiro deles é o Aion Y (acima e abaixo), que poderia ser melhor descrito como um crossover e tem um jeitinho simpático de minivan familiar com vocação urbana. Ele tem pouco mais de 4,5m de comprimento, com os mesmos 2,75m de entre-eixos do mano sedã ES, mas um porta-malas – como o desenho da carroceria já faz antever – menor, digno de um hatch: 361 litros, que podem chegar a 1.650 litros com os bandos traseiros rebatidos.

Elétrico, ele deve andar bem, pois tem um motor de 204cv e pouco menos de 23 kgfm. Segundo a GAC, ele é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 8,5 segundos, atingindo os 150 km/h de máxima. E deve ser muito silencioso mesmo em velocidades altas, pois tem um coeficiente de resistência aerodinâmica (Cx) de apenas 0,278. O Y vem com bateria de 63,2 kWh, capaz de alimentá-lo por 318 km de autonomia (INMETRO) e que pode ser recarregada de 30% a 80% em 55 minutos em um carregador rápido de 75 kW. Custa R$ 175 mil e traz alguns recursos ADAS, como assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma de emergência, assistente de congestionamento e piloto automático adaptativo.

O segundo SUV elétrico é o Aion V, um pouco maior (são 4,6m de comprimento e 473 litros no porta-malas, com os mesmos 2,75m de entre-eixos), também com pinta de utilitário familiar, mas mais quadradão, lembrando um pouco os jipões clássicos. Ele não é 4x4, no entanto. Vem com motor com os mesmos 204cv do Y, mas com um pouquinho mais de torque, 24,4 kgfm, o que permite que acelere também um pouco mais rápido: de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos, chegando aos 160 km/h. A bateria tem 75,3 kWh, o que rende uma autonomia de 389 km (INMETRO).

Além do desenho algo original, esse SUV traz alguns recursos não muito comuns, como bancos traseiros totalmente reclináveis e uma espécie de “estufa-geladeira” instalada entre os bancos da frente, com ajuste de temperatura de -15°C a 50°C, ou seja, capaz de gelar bebida ou aquecer comida.

No pacote de recursos ADAS, ele tem piloto automático adaptativo, assistente de permanência de faixa, frenagem autônoma de emergência, assistente de congestionamento e alerta de tráfego cruzado traseiro. E traz painel e multimídias com bom tamanho e conectividade, além de um som com nove alto-falantes. Custa a partir de R$ 215 mil.

GS4, o híbrido tipo HEV da linha GAC no Brasil
Seguindo na linha, chegamos ao híbrido da família, o GS4 (acima). Ele é do tipo HEV, ou seja, não é recarregável em tomada, tendo sua bateria de 2,1 kWh reabastecida pelas frenagens e desacelerações, ou pelo motor térmico. Por falar nele, o propulsor a combustão funciona no ciclo Atkinson (sistema igual ao dos Toyota nacionais), tem 2.0 litros e gera 140 cv. E funciona de forma coordenada com e combina um motor elétrico de 182 cv. Somando tudo, chega-se a uma potência combinada de 235 cv. Segundo a marca, essa combinação proporciona uma autonomia de até 7-5 km, com um consumo médio de 14,1 km/litro de gasolina.

O GS4 tem 4,6m de comprimento e – adivinhem só? – 2,75m de entre-eixos. No porta-malas, leva 638 litros de bagagens – que podem chegar a 1.586 com os bancos rebatidos. No pacote de assistência à condução (ADAS) estão controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego e tráfego cruzado traseiro. O carro custa a partir de R$ 190 mil e pode até competir com modelos como versões do Chery Tiggo 8 e do GWM Haval H6, que são mais caras, mas podem ter suas baterias recarregadas em tomadas (PHEV).

GAC Hyptec HT tem vesão com portas “asa de gaivota” na traseira
Quem fecha o cardápio dessa linha GAC é também o modelo mais caro e sofisticado, o SUV elétrico Hyptec HT. Ele tem 4,93m de comprimento e um visual mais esportivo que os demais, e está disponível em duas versões, HT Elite (R$ 300 mil) e HT Ultra (R$ 350 mil), que se diferenciam basicamente pelas portas traseiras – as da traseira se abrem para cima, no estilo “asa de gaivota” semelhante ao do Tesla Model X, na mais cara delas, a Ultra. Os técnicos da GAC explicam que a abertura dessas portas conta com um sistema que impede que esbarrem em eventuais obstáculos, como outros carros ou pilastras na garagem.

A mecânica em ambas, porém, é a mesma: motor de 245cv de potência e 31,5 kgfm de torque, alimentado por uma bateria de fosfato de ferro-lítio com arrefecimento líquido de 72,7 kWh. Com isso pode rodar 362 km pelo padrão do INMETRO e, em um carregador rápido (DC 120 kW) pode ser abastecido de energia, de 30% a 80% em 29 minutos.

Além de mais potente, o Hyptec HT é também mais espaçoso que seus irmãos, com seus 2,93m de entre-eixos e capacidade de até 725 litros no porta-malas (contando um compartimento abaixo do piso). O carro conta com diversos acessórios e recursos interessantes de série, como teto panorâmico fixo, bancos com massagem e ventilação, som com 22 alto-falantes, multimídia com tela de 14,6 polegadas e um pacote ADAS, de assistência autônoma ao motorista, com piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma de emergência e monitoramento de ponto cego. Rivais? Novamente, principalmente modelos da BYD, GWM, Volvo e Chery.

GAC quer “chegar chegando” ao mercado brasileiro
Lançando tantos modelos de uma vez, a GAC quer morder, e logo, pelo menos um pedaço do mercado de carros eletrificados no Brasil, que é hoje dominado pela Volvo e por suas conterrâneas chinesas, como a BYD, GWM e Chery. Mas a briga não vai ser fácil e nem parar por aí. Outras chinesas já tão chegando junto e com intenções semelhantes, como a OMODA Jaecoo e a Geely.
As metas comerciais da GAC são ambiciosas, mas não fora da realidade: pretende vender oito mil unidades de seus os até dezembro deste ano e chegar aos 29 mil carros vendidos no país em 2026. Para dar suporte a tudo isso, antes de começar as vendas dos carros, a montadora inaugurou um centro de distribuição na cidade de Cajamar (SP), que começa a operar em uma área de 2.000 m², mas está localizado de um complexo de 32.000 m². E promete iniciar, logo a montagem local de alguns de seus modelos.
Chega a impressionar a aparente facilidade como que as marcas chinesas vêm se instalando no Brasil, inclusive para produzir aqui seus automóveis. É claro que a tecnologia industrial hoje disponível, com o uso intensivo de robôs e grande flexibilidade para se criar ou alterar as linhas de montagem, ajuda e muito. E o fato de o Brasil ser hoje o sexto maior mercado automobilístico no mundo, com bons números de vendas e bom fluxo de exportações para a América Latina, torna o negócio atraente.
Ainda assim, ressalta um grande contraste em relação a outras montadoras, que vêm enfrentando crises e alegadas dificuldades, a ponto de uma das maiores dela, a Ford, não faz tanto tempo, deixar nosso país alegando justamente a baixa lucratividade. Deixo a conclusão com o leitor.

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