Minha semana com o BYD Dolphin Mini 2025
- Henrique Koifman
- 4 de jul.
- 7 min de leitura
Texto e fotos de Henrique Koifman

Durante uma semana, tive como carro de uso diário o BYD Dolphin Mini que você vê nas fotos deste post. Uso que foi tipicamente urbano – o que, afinal, é a finalidade desse modelinho, elétrico e com autonomia (segundo o Inmetro) de 280 km. Já habituado a ver esse “golfinho em miniatura” rodando em quantidades consideráveis pelas ruas do Rio, especialmente em serviços por aplicativo, confesso que estava curioso para conhecê-lo um pouco melhor.

O “conhecer um pouco melhor” acima se deve ao fato de já ter tido uma oportunidade de dar duas voltas com um Dolphin Mini em uma pista de testes no interior de São Paulo, no ano passado. Condições muito específicas. A tal pista era estreita e cheia de curvas, subidas e descidas. E, para complicar, essas voltinhas que fiz foram dadas entre outras tantas, com vários outros modelos da BYD, todos eles maiores, mais potentes e mais caros que esse pequenino, num contraste pouquíssimo favorável a ele. Para ser sincero, nem me lembro bem o que analisei (se é que o fiz) na época.
Desta vez foi bem diferente. Retirei o carrinho de uma concessionária e, saindo de lá, já caí no trânsito pesado da Zona Sul carioca. E ali esse BYD estava em seu habitat natural. Carros elétricos, por sua simplicidade de condução, presteza nas reações e precisão nas acelerações e frenagens, fazem boa parte dos modelos a combustão parecerem antigos ou, no mínimo, menos apropriados para se guiar num engarrafamento – ou mesmo em velocidades constantes entre baixas e médias.

Nesse ambiente, o Dolphin Mini é espertinho, bem mais do que podem sugerir os números da ficha técnica. São 75 cv de potência, cifra semelhante ao dos carros 1.0 com motor aspirado atuais, e 13,8 kgfm de torque (a bateria oferece 38,88 kWh). Como esses quilinhos de disposição já estão todos disponíveis no primeiro giro do motor, ainda que a aceleração de 0 a 100 km/h indicada pela própria BYD seja feita em pouco impressionantes 14,9 segundos, o tempo necessário para se sair dai mobilidade para uns 40 ou 50 km/h é proporcionalmente muito menor.
O suficiente, por exemplo, para você arrancar num sinal recém-aberto à frente da maioria, ou ganhar velocidade, digamos, de uns 30 para uns 60 km/h com grande agilidade. Agilidade num trânsito em que, ser pequeno, com pouco menos de 3,80 m de comprimento, ajuda muito também, claro.

Além disso, o pequeno BYD é macio, muito confortável, com espaço generoso para as quatro pessoas que se propõe a transportar, tem um acabamento do interior acima da média… Não fosse o ruído (alto) da ventilação/ar-condicionado, a sensação seria de estar em um modelo de categoria superior. Ainda que não proporcionasse uma economia significativa no abastecimento (eletricidade mais em conta que a gasolina), só por isso ele já seria uma ótima opção para quem vive de dirigir nas cidades. No mínimo, cansa menos que a maioria dos primos a combustão.

Conhecendo (e entendendo) o BYD Dolphin Mini
Levei algum tempo para me inteirar de seus comandos e recursos, mas o básico foi bem fácil. Em lugar de uma alavanca ou botão num console entre os bancos, ou de uma alavanca junto ao volante, o câmbio do Dolphin Mini é manejado por meio de um pequeno comando rotativo localizado no console central, no painel.
Por ele você seleciona entre D (de drive, para o carro andar para frente), N (neutro) e R (marcha a ré). O P (de park, estacionar), fica na lateral desse mesmo comando e aciona automaticamente o freio de mão quando é selecionado. E basta engrenar uma das duas marchas (para frente ou para trás) para que o mesmo freio seja solto – dá para ouvir o motorzinho elétrico brecando ou liberando as rodas traseiras. Estranhei isso um pouquinho… por não mais de três minutos. É fácil, prático e funciona muito bem.

Mais tarde um pouco, desvendei os outros (poucos) botões, que permitem a seleção dos modos de condução – ECO (“nômico”), Normal e Sport –, o acionamento do assistente para uso em pisos muito escorregadios (como gelo e neve), o da “retenção automática do veículo” (que o mantém automaticamente parado, no trânsito, mesmo com o câmbio em “D”, sem a necessidade de ficar com o pé no freio, até que se acelere novamente) e os comandos (simplificados e limitados) para o ar-condicionado e ventilação.
Isso porque, para ter acesso à escala completa de ajustes de temperatura e de velocidade da climatização, é preciso abrir uma das muitas interfaces da tela de multimídia, onde – como em muitos dos modelos atuais – está uma série de comandos e ajustes dos mais variados tipos. E fazer isso com o carro andando, convenhamos, não é lá muito fácil ou mesmo apropriado. Só que há uma alternativa capaz de tornar a vida mais simples a bordo: os comandos de voz.

Fale com ele
É, esse minigolfinho não é feito para quem não está acostumado a falar sozinho, ou sente timidez em relação à própria voz. “Falando com o carro”, dá para ajustar a velocidade da ventilação ou a temperatura do ar-condicionado, pedir informações sobre a temperatura externa, autonomia da bateria, manutenções e até sobre o percurso, caso se esteja usando seu sistema de navegação – incluindo aquela para responder à célebre pergunta, vinda do banco de trás: “papai, falta muito pra chegar?” E esse recurso de comandos por voz (do qual, confesso, não sou muito chegado a usar) funciona até bem direitinho.

O cuidado com a usabilidade – ou seja, a facilidade e praticidade de uso – merece elogios nesse Dolphin Mini. A impressão é de que essas características estavam mesmo entre as prioridades de seus projetistas. E mesmo algumas das que talvez não estivessem, mereceram atenção mais adiante. Digo isso a respeito especificamente de um pequeno adesivo colado na parte de baixo da tampa do porta-malas. Ele indica a posição do botão oculto que destrava a tampa, para abri-la manualmente (também dá para fazer isso pela chave presencial). Além de oculto, esse botão não é centralizado em relação ao carro, o que obrigaria um desavisado a procurá-lo “por tato”, certamente causando alguma irritação. Para que isso não acontecesse, o pessoal da BYD colou um adesivo indicativo no local (veja na foto acima). Pode parecer uma bobagem, mas já passei por situações semelhantes (e sem essa indicação) em outros modelos uma quantidade suficiente de vezes para valorizar essa singela iniciativa.

Dolphin Mini: muita praticidade, nenhuma esportividade
Diferentemente de outros elétricos que tenho guiado, o Dolphin Mini não tem entre suas opções de condução a chamada “direção com um só pedal”, do inglês one pedal drive. Esse recurso serve principalmente para recuperar energia, mas, na prática, oferece também uma maneira diferente e até mais simples de se dirigir – pois basta tirar o pé do acelerador para o carro frear. Neste BYD, a recuperação de energia – que funciona em todos os modos de condução, com dosagens ligeiramente diferentes, pelo menos aparentemente – é feita a partir da redução natural da velocidade e, claro, das frenagens, mas através do pedal do freio, mesmo.
Recuperação essa que me pareceu ser eficiente, pois rodei com o carrinho perto de 250 km (quase sempre no trânsito) e, quando o devolvi à concessionária, ainda restavam mais de 30% de carga na bateria – o que sugere que ele seria capaz de rodar um pouco mais que os tais 280 km totais apurados pelo Inmetro.

Os freios, com discos nas quatro rodas, aliás, passam confiança e contam com um dispositivo que, segundo a BYD, torna as frenagens mais confortáveis. Para um carrinho elétrico, o Dolphin Mini não é tão pesado (menos de 1.250 kg). Mas se você espera que isso faça dele um modelo com ímpetos mais esportivos, esqueça. O foco ali está, digamos, 85% no conforto e uns 15% na performance - estes, perceptíveis apenas num estiloso aerofólio traseiro e no desenho das bordas inferiores das laterais e dos bancos dianteiros.

E boa parte desse conforto abundante está relacionado à suspensão, que é muito macia, e filtra quase tudo em termos de buracos e calombos pelo caminho. Só que essa maciez toda deixa o carrinho um pouco impreciso em curvas mais rápidas e fechadas. Cheguei a sentir o controle de estabilidade agindo em algumas ocasiões em que nem estava assim tão rápido – como em retornos nas pistas do Aterro do Flamengo, uma via expressa, sempre dentro dos limites permitidos.
Além disso, embora seja ótima para manobras – e o Dolphin Mini é dos carros mais fáceis de se manobrar e estacionar que testei nos últimos anos – a direção com assistência elétrica também me pareceu anestesiada demais, mesmo nas velocidades mais altas. Não que seja imprecisa, mas não permite que você tenha aquela sensação de “carro na mão”, que quem gosta de dirigir costuma valorizar (eu valorizo).

Por último, mas não menos importante, vale mencionar que esta única versão do Dolphin Mini vendida aqui no Brasil atualmente, embora seja praticamente tão equipada como as de topo de linha de outros mercados, conte com controles de tração e estabilidade e seis air-bags, não traz nenhum dos recursos de assistência autônoma ao motorista (ADAS), como frenagem autônoma de emergência e alerta de ponto cego, por exemplo. Este último é até parcialmente substituído (ou compensado) por um ótimo sistema de sensores, que acusa a proximidade de outros veículos (como as motos) em 360 graus, inclusive pelos pontos cegos. Mas não é a mesma coisa, claro.

E então, o BYD Dolphin Mini vale a pena?
O Dolphin Mini custa hoje (3/7/2025, na página da concessionária oficial do Grupo AB) exatos R$ 118.800, preço semelhante ao de algumas versões mais completinhas de hatchs compactos. Ele também é muito bem-acabado (com materiais de melhor aparência que a maioria nesta faixa de preço) e bem equipado. Sua autonomia de 280 km (segundo o Inmetro), com a possibilidade de ter 80 % de sua bateria reabastecida em um recarregador de alta capacidade, dá conta perfeitamente do uso urbano. E, mesmo não sendo muito afeito a uma condução mais arrojada, tem agilidade suficiente para ser até divertido de se guiar no trânsito, oferecendo um nível de conforto que, geralmente, só se encontra em modelos maiores – e mais caros. Pesando tudo isso, minha resposta é, sim, ele vale a pena.

E vale lembrar que, neste começo de julho, a BYD iniciou oficialmente a produção do Dolphin Mini em sua fábrica na Bahia, o que deve dar, também, maior tranquilidade aos proprietários do carrinho em relação a peças de reposição. E, a depender do mercado, acho até provável que lance uma versão um pouco mais simples e mais barata do modelo, para concorrer também com os hatches compactos com motor 1.0 aspirado.

Uma última curiosidade: na China, esse carrinho do teste é vendido como BYD Seagull, ou seja, gaivota, em inglês. Mas, na Europa, ele também é apresentado com o nome do mamífero aquático, só que com um sobrenome descolado – lá ele é o Dolphin Surf. Recentemente, o modelo superou o primeiro milhão de unidades vendidas globalmente.
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