Audi Q8: substantivo automotivo superlativo
- Henrique Koifman
- há 2 dias
- 9 min de leitura
Texto e fotos de Henrique Koifman

Devo confessar que, quando me ofereceram esse Audi Q8 Performance Black aí das fotos para fazer um test-drive de alguns dias, meu primeiro sentimento foi de preocupação. Afinal, com seus quase 5 metros de comprimento e 2,2 de largura, 2.340 kg, pra lá de 300 cv de potência, custando a partir de R$ 775 mil e com esse visual classudo, mas nada discreto, esse carrão aí seria uma definição ambulante e quase perfeita para “substantivo superlativo” – se tal classe gramatical existisse. E superlativos, muitas vezes não são lá muito fáceis ou práticos de se usar. No caso do Q8, se você, como eu, tem uma rotina urbana que inclui trânsito pesado e vagas apertadas…. Felizmente, meu temor se mostrou ser (quase totalmente) infundado. Falo sobre isso neste post.

Antes, para contextualizar, lembro que o Q8 é o maior esportivo utilitário da linha da Audi. Na prática, ele é uma versão com desenho cupê (traseira com caimento diagonal, do teto à base da tampa do porta-malas) do Q7, o primeiro SUV lançado pela Audi, no já longínquo 2006. No mercado desde 2018, o Q8 chegou ao Brasil em 2019. E, em relação àquele carro, este exemplar de nosso teste incorpora retoques visuais, alguns deles feitos no ano passado. São mexidas no desenho da grade dianteira, mais estreita, faróis (full LED com “dancinha programável” de luzes de assinatura), rodas e acabamentos, que agora puxam para o pretinho da moda. O carro traz, também, a nova logomarca da Audi.

Isso porque, numa redistribuição estratégica, a Audi resolveu reservar o traje a rigor de luxo, mais formal, no “mano” Q7 (que tem a carroceria com desenho mais tradicional, em dois volumes) e definiu o Q8 como opção mais esportiva. O modelo, aliás, só está disponível aqui no Brasil na versão especial Performance Black (olha o pretinho aí), criada especialmente para o nosso mercado e que combina itens de série e opcionais do pacote S-line e da versão RS – como bancos, acabamentos emblemas e alguns recursos.

Minhas primeiras impressões do Q8 não foram as que ficaram
Saí da concessionária direto para o trânsito engarrafado da Zona Sul carioca. Tão engarrafado, que até mesmo sair da garagem e entrar no asfalto foi uma operação que requereu certa negociação e diplomacia, em meio a uma algazarra de buzinas e motores diesel de ônibus berrando em agonia. De cara, tive a sensação de estar guiando um banheirão, com respostas um pouco amortecidas (gap de aceleração) e excesso de maciez que, somada aos seus mais de 2,3 toneladas, mostravam alguma transferência de peso mesmo nas menores freadas ou aceleradas.
E, para “melhorar” o clima, alguém de humor peculiar havia deixado o aquecimento do volante – recurso criado para amenizar a sensação de frost do inverno europeu – ligado em modo Polo Norte. Até descobrir como desligar aquilo…

Mas meu mau humor durou apenas uns dois ou três quilômetros, se tanto. Era primavera no Rio, tipo céu azul e 22 Cº. Estiquei até um ponto tranquilo na Urca, ali perto; estacionei com vista para a Baía de Guanabara, abri a cortina do teto enorme panorâmico e tratei de me inteirar do básico para usufruir do carrão.

Ele conta com três telas – uma para o painel de instrumentos, com 12 polegadas e farta quantidade de ajustes e configurações; outra, com 10 polegadas, para a boa central de multimídia, que também incorpora inúmeros controles gerais; e uma terceira, logo abaixo, dedicada principalmente aos ajustes do sistema de climatização da cabine, mas que também dá acesso ao controle de alguns outros recursos, como o start-stop (que desliga e religa o carro em paradas no trânsito) e a configuração do head-up display (projeção de algumas das informações dos instrumentos na base do para-brisas).
No começo, estranhei um pouco o tipo de resposta aos dedos dessas duas telas interativas, que exigiam um pouco mais de insistência para efetivamente registrarem os comandos – e reagiam a eles com uma vibração estranha. Descobri, depois, que esse recurso pode ser acionado ou não de acordo com o gosto do freguês. Desliguei.

Aproveitei para ajustar melhor a minha posição no banco – e que banco! –, por meio de suas regulagens elétricas, e colocar o volante na melhor distância em relação aos meus braços. Olhei com mais calma para os acabamentos perfeitos, com materiais emborrachados e superfícies em preto reluzente e metal fosco, forrações em alcântara, naquele primor irretocável. É quase impossível encontrar alguma coisa ali que não seja agradável ao toque ou vistosa.

As linhas em geral são, digamos, cartesianas, retas, discretas, sóbrias, mesmo com a presença de linhas em LED (com cores configuráveis) – bem ao estilão germânico. Mas, com isso, reforçam ainda mais o ar de sofisticação do Q8. E, com as janelas fechadas, não ouvia praticamente nada do que acontecia lá fora. Isso mesmo sem ligar o superequipamento de sonorização, daqueles que têm alto-falantes em todos os cantos e distorção medida em micromilésimos.
Ajustando o modo de condução do Audi Q8
Dando uma olhada nas configurações dos modos de condução, vi que o carro estava rodando na opção Comfort – daí a tal maciez explícita. A suspensão nesse Q8 é pneumática, ou seja, ele literalmente roda sobre um colchão de ar – na verdade, bolsas infláveis, contando com sistema multilink nas quatro rodas. E permite não só que se escolha a altura do carro em relação ao solo – há um botão, no console, para isso –, como também o tipo de comportamento (e dureza) que se deseja.

No modo de condução mais esportivo, o Dynamic, por exemplo, ela fica mais rígida e mais baixa. E no Offroad, eleva o carro para que passe mais facilmente em terrenos acidentados. Além disso, claro, essas opções de condução interferem diretamente na performance do motor, câmbio (automático de 8 marchas) e direção, de acordo com o “temperamento” selecionado. E há ainda os modos Auto (que permite que o carro “reaja sozinho” ao caminho), Eco (que procura economizar combustível) e Individual, com o qual você pode combinar características dos outros “modos” ao seu gosto.
Como pegaria na sequência as pistas expressas do Aterro do Flamengo, com máxima permitida de 90 km/h e bom asfalto, resolvi selecionar o modo Dynamic, para uma tocada mais impetuosa. E essa escolha foi decisiva para melhorar de vez o meu humor com o carro.

Não, amigo leitor, não saí dali acelerando tresloucadamente, roletando os quebra-molas da Urca, costurando pelo trânsito afora. Mas, imediatamente, notei que, paradoxalmente, com a suspensão mais firme, o carro ficou também mais confortável – desde que rodando em piso em bom estado, claro.
Isso porque, com esse ajuste, toda aquela sensação de banheira, de barcão, sumiu completamente e guiar o Q8 passou a ser bem mais parecido com o que se espera encontrar (ou, pelo menos, eu espero) em carro desse padrão. Nada mais de transferências expressivas de peso em qualquer frenagem ou aceleração. E não, ele não ficou duro a ponto de incomodar quem estivesse a bordo.

E, com a tração integral quattro distribuindo a força com precisão pelas quatro rodas, mesmo curvas mais fechadas, como as dos retornos do Aterro do Flamengo, puderam ser feitas com total tranquilidade e controle. Para isso, contribui também o eixo traseiro esterçante. Traduzindo: as rodas de trás se movem ligeiramente, tanto nas altas velocidades (para incrementar a estabilidade) quanto nas baixas (para diminuir o raio de manobra), que age automaticamente, de modo quase imperceptível. A mesma tração integral faz também com que arrancadas mais fortes quase não inclinem o carro – pelo menos com a suspensão em ajuste esportivo.
Caindo na estrada com o Audi Q8 Performance Black
Aproveitei o final de semana e coloquei o Q8 na estrada, para um total de 180 km (ida e volta) de quase sempre bom asfalto, em pistas duplas, e na maior parte do trajeto, planas. Para segurar um pouco o consumo do motor V6 biturbo, optei por configurar meu próprio modo de condução Individual, deixando a suspensão em regulagem mais esportiva, mas o restante em estilo tiozão (mas não pão-duro). Com isso, além de viajar com um alto grau de conforto, ainda consegui obter uma média final de consumo (entre cidade e rodovia) de 9,3 km/litro – número medido pelo computador de bordo e que julgo muito bom para um carrão com essas características..

Colabora nesse sentido o sistema híbrido leve da Audi, que usa um pequeno motor elétrico de 16 cv para dar suporte a um efeito de “roda livre”, prolongando velocidades de cruzeiro mais altas se a necessidade de se queimar combustível – ou, pelo menos, tanto combustível.
Destaco que guiei sem me preocupar em pisar mais leve no acelerador – afinal, ter 340 cv e 51 kgfm de torque ao alcance do dedão do pé, e não usar isso, é pecado. Quando quis apimentar um pouquinho mais a performance, tratei de usar o “S”, a seleção esportiva no câmbio, com a qual tudo fica um pouco mais divertido ainda.
Segundo a Audi, esse Q8 vai de 0 a 100 km/h em 5,9 segundos. Nos meus trajetos mais livres, fiz retomadas e ultrapassagens que não destoaram disso. Inclusive num pedacinho de subida de serra, em direção a Teresópolis, com partes bem sinuosas, que peguei só para experimentar o carro naquelas condições específicas. Mesmo com um gap, de talvez fração de segundos, a pisada mais funda no acelerador é respondida com uma reação alegre e totalmente controlada, como se o carrão corresse sobre trilhos – . E os freios se comportam à altura.

Como é de se esperar, o espaço interno é ótimo, mas somente para quatro pessoas, pois o túnel central e a saída do ar-condicionado reduzem bastante o lugar para as pernas de um quinto ocupante no meio do banco de trás.
E já que falo sobre uma viagem, vale mencionar que no porta-malas desse Audi Q8 podem ser acomodado um volume equivalente a 605 litros de bagagens. Espaço que pode ser ampliado a mais de mil litros, rebatendo-se o encosto traseiro – embora usar esse carro como furgão de mudanças me pareça tão improvável quanto sair com ele do asfalto para estradas ruins ou semi-existentes, embora no vídeo de divulgação, o pessoal do marketing da Audi tenha incluído um trecho de off-road cascudo para demonstrar suas aptidões aventureiras.

O mais próximo disso que fiz foi elevar a suspensão a ar do SUV o suficiente para vencer todos os quebra-molas (e eram muitos, com “verticalidades” diversas) do caminho sem precisar me preocupar com nada. Sob a forração do porta-malas, aliás, além do pneu sobressalente, que dorme ali vazio, ao lado de um pequeno compressor, está instalado outro compressor, o da suspensão a ar, assim como, aparentemente, seu reservatório.
O aparentemente digitado aí em cima se deve ao fato de que pouco ou quase nada da parte de “hardware” desse Audi Q8 Performance Black é muito visível. E isso também se aplica ao motor. Você abre o capozão do carro (que conta com amortecedores a gás, ufa) e dá de cara com uma imensa tampa preta, cobrindo quase tudo. É preciso se esgueirar pelos lados para ver as “bancadas” laterais do motor V6, que é longitudinal, e uma ou outra coisinha de suas intimidades.

Acessórios, recursos de segurança e ‘etcéteras’ do Audi Q8
As ótimas condução e sensação de guiar – pode não parecer, mas são coisas distintas – do Q8, a despeito de seu porte e peso (veja os dados completos na ficha técnica, ao final do post) se devem em parte aos luxuosos apoios da eletrônica avançada. Sistemas que dosam o comportamento do carro, reagindo em milésimos de segundo para mantê-lo na trajetória, aprumado, sob controle.
E, embora não tenha um dos projetos mais recentes da marca, ele incorpora um bom conjunto de recursos de assistência ao motorista (ADAS), que inclui o piloto automático adaptativo (ADAS), monitoramento de ponto cego e câmera com visão 360º (fundamental para estacionar o carrão), manutenção/alerta de troca de faixa, frenagem autônoma de emergência e alerta de colisão, alerta de tráfego cruzado na traseira (com frenagem autônoma), farol com sensor (abaixa o faixo automaticamente quando vem um carro na direção contrária) e detetor de obstáculos para a abertura das portas. E, opcionalmente, câmera noturna para detecção de pedestres e animais na pista e head-up display (a projeção de informações na base do para-brisa).

E então, o Audi Q8 Performance Black 2025 vale a pena ou não?
Comecei este post dizendo que o Audi Q8 Performance Black é um carro superlativo. E ele também é superlativo no preço: a partir de R$ 775 mil (com um arredondamento de R$ 10 para mais). E, com todos os opcionais – como o head-up display e a câmera noturna –, perto dos R$ 850 mil. Se vale a pena pagar tudo isso por ele? Para os que estão nesse nível financeiro, acho que sim. Eu compraria.
Ficha técnica - Audi Q8 Performance Black 2025 (dados do fabricante)
Motorização e transmissão
Motor 3.0 TFSI
Seis cilindros em V (V6), 2.995cc
Potência: 340cv (5.000 - 6.400 rpm)
Torque: 50,9 kgfm (1.370 - 4.500 rpm)
Sistema híbrido leve (motor elétrico de 16cv)
Tração: integral sob demanda
Transmissão: automática Tiptronic de 8 velocidades
Performance:
Aceleração 0-100 km/h: 5,9 s
Velocidade Máxima: 210 km/h
Suspensão
Dianteira – com braços triangulares e barra estabilizadora, roda tipo independente e molas a ar
Traseira – com braços triangulares e barra estabilizadora, roda tipo independente e molas a ar
Rodas e pneus
Liga leve, 23’ / 285/35 R23
Freios
A disco ventilados nas quatro rodas
Dimensões (mm):
Comprimento - 4.986
Largura - 2.190
Altura - 1.705
Entre-eixos - 2.995
Peso: 2.340 kg
Capacidades (litros)
Tanque de combustível - 85
Porta-malas - 605


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