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Afinal, carros híbridos e elétricos vão dar certo?

Porque ainda há gente séria pondo em dúvida o êxito da transição energética da indústria automobilística


Por Henrique Koifman / fotos de divulgação



Automóvel híbrido norte-americano de 1916 - foto internet


"Esse pessoal que está trocando as maquinas de escrever por computadores pessoais vai se dar mal. Máquinas de escrever, mesmo depois de muito usadas, têm décadas de vida útil pela frente. Computador é muito caro e fica velho, defasado, em um ou dois anos. Está na cara que essa história de computador pessoal, PC, não passa de mais uma moda passageira!"




Com ligeiras diferenças em uma ou outra palavra, ouvi discursos como o do parágrafo acima diversas vezes, lá pela segunda metade dos anos 1980, começo dos 1990. Jornalista, quando comecei a trabalhar em redações de jornais e revistas, ainda se “batia” todas mas matérias à máquina, fazendo com que os períodos de fechamento das edições fossem embalados por uma espécie de sinfonia de ritmo caótico, sob nuvens pesadas de fumaça de cigarros.


Faço essa introdução memorialista para mostrar que resistir a novas tecnologias, especialmente quando elas modificam a rotina das pessoas, é algo inerente ao tal do ser humano. E, antes que você abandone este texto, me apresso em dizer que, sim, vamos começar a falar de carros, já no parágrafo abaixo.


A resistência, no caso, é aos carros elétricos e híbridos. Ela não é generalizada e nem sequer envolve uma quantidade representativa de pessoas. Na verdade, na maioria dos casos seus porta-vozes nem são contra essa nova tecnologia, apenas afirmam – geralmente com aquele ar de sábio meio irritado, meio entediado – que “não vai dar certo”.


E aí, os argumentos podem ser os mais variáveis, como a suposta desvalorização acentuada de carros elétricos e híbridos usados, questões ambientais (no descarte de baterias, por exemplo), a falta de pontos para recarga e as poucas oficinas habilitadas para fazer a manutenção e os reparos nesses veículos.


Como na época das máquinas de escrever, tudo isso faz sentido e em muitos casos é até verdade. Neste momento. Sim, essa visão quase apocalíptica em relação aos híbridos e elétricos peca justamente por ser, digamos, um pouco míope, e focar no imediato, no que está logo abaixo do nariz, esquecendo que estamos ainda começando uma transição. Elétricos e híbridos (leves ou recarregáveis) somados não ultrapassaram 5% do mercado brasileiro para veículos em 2023.




O Toyota Yaris Cross é um dos modelos híbridos que podem ser produzidos no Brasil em breve


Um cenário que deve mudar sensivelmente no decorrer desta década – afinal, somados todos os anúncios de novos investimentos no Brasil para os próximos anos, cerca de 95 bilhões de reais vão ser empregados por elas justamente no desenvolvimento e lançamento de novos carros, em sua imensa maioria híbridos flex – combinação que faz todo o sentido quando a ideia é reduzir as emissões totais de carbono, missão em que o etanol pode contribuir bastante.



Quando os computadores pessoais substituíram as máquinas de escrever


Voltando um pouco ao exemplo da chegada dos computadores pessoais, conto para quem não viveu isso que, em poucos anos, eles substituíram totalmente as máquinas de escrever em todas as redações jornalísticas – e nas grandes empresas em geral. Como sempre fui interessado em tecnologia, especialmente a do tipo que melhora a nossa vida e nos abre novos horizontes, eu comprei o meu primeiro PC (de segunda mão) antes mesmo que a empresa em que trabalhava os implantasse na produção jornalística – o que ocorreu um ano depois, aliás.


Sim, aqueles computadores eram caros e o descarte de equipamentos de informática usados e ultrapassados se tornou um problema – em parte contornado hoje com sistemas de recolhimento e reciclagem de quase 100% de seu material. Mas o ganho que tivemos em termos de recursos, agilidade, produtividade, menor gasto de material (menos papel) e, um pouco mais tarde, conectividade com a mudança ultrapassou, com uma margem imensa, essa questão. E os preços, com o tempo – e o volume de produção – se tornaram mais digeríveis. Tanto para as empresas e seus funcionários, quanto para cada um de nós, que hoje pode contar com um computador sofisticadíssimo e plenamente conectado na palma da mão. Sim, os smartfones de hoje são descendentes daqueles PCs.



Carros elétricos são melhores que os a combustão


Não vou aqui repetir todos os clichês sobre as vantagens socioambientais que a substituição dos veículos movidos apenas por combustíveis fósseis por outros, híbridos – que podem queimar etanol vindo do campo – e elétricos. Já tem muita coisa publicada sobre isso, inclusive neste blog. Fico apenas no argumento mais banal e resumido, de que esses novos carros são efetivamente melhores que os anteriores. Assim como os computadores, mesmo aqueles lá do comecinho dos anos 1990, eram bem melhores que as máquinas de escrever.



McLaren Artura, superesportivo híbrido de 700 cv que chega este ano às lojas brasileiras


E que, assim como aqueles PCs, esses carros eletrificados de hoje são apenas as primeiras versões de uma nova geração de máquinas que vão evoluir muito, e bem rápido, nos próximos anos – o que não quer dizer que não possamos e devamos criticar a forma como a transição entre a combustão e a eletricidade está acontecendo, mostrar os problemas com a produção e descarte das baterias ou a morosidade na instalação de pontos de recarga, claro.


Mas dar uma de “sábio que rema contra o sistema” e prever que “nada disso via dar certo” só serve mesmo para atrair mais clicks, likes e aumentar o tráfego do perfil e/ou canal do suposto polemista. Assim como, hoje, ninguém mais se lembra daqueles que, nos anos 1990 previram que os computadores pessoais seriam um fiasco passageiro, daqui uns cinco, 10 anos, é muito provável que nenhum dos atuais iluminados seja lembrado por ter desenhado o futuro errado.


Tudo acaba em menos fumaça


Por último, lembro que, alguns anos depois da chegada dos computares às redações, sumiram de lá também as icônicas nuvens de fumaça de cigarro – e, com elas, uma tosse crônica que me perseguia. Bom, nesse caso acho que nem dá para dizer que a criação dos fumódromos do lado de fora das salas é um efeito colateral da informatização – embora aquela nicotina toda não fizesse bem aos equipamentos. Essa mudança de hábito (e de regras) se deveu mais a outro tipo de evolução, a da conscientização (com base científica) sobre os males do fumo e do respeito aos direitos alheios. Mas, ainda que eu esteja mesmo forçando um tanto a barra para dar lógica a este último parágrafo, não deixa de ser curioso notar que, tanto a informatização das redações, quanto a eletrificação dos veículos contribuem para tornar o ambiente mais claro e respirável.



Plataforma para carros híbridos da BMW


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