BYD King: um híbrido executivo que vale a pena?
- Henrique Koifman
- há 4 dias
- 8 min de leitura

Por Henrique Koifman – fotos HK e divulgação
Há quase exatamente um ano, postei aqui no blog uma análise sobre o lançamento do sedã de porte médio BYD King. Híbrido do tipo plug-in – ou seja, recarregável –, ele chegava com a ambição de enfrentar um concorrente principal peso pesadíssimo: o consagrado Toyota Corolla Altis Hybrid. Você pode conferir essa primeira matéria aqui <https://abrir.link/PVORE>. No final daquele texto, depois de descrever o modelo e suas versões minuciosamente, eu comentei que só poderia falar sobre como toda aquela receita se traduzia no comportamento do carro quando pudesse guiá-lo. Pois bem, esse dia chegou e, em meados de maio, passei uma semana com a opção mais cara do King, a GS, que você vê aí nas fotos. Vamos a ela.
Meus primeiros contatos com o BYD King
Na verdade, esta não foi a primeira vez em que pude guiar o King. No ano passado, durante a apresentação de um outro modelo da BYD, no interior de São Paulo, havia um desses sedãs disponível para um breve giro por estradinhas secundárias no entorno do local do evento. Coisa de uns 10 km totais, 15 ou 20 minutos e em uso bem específico. Agora, no entanto, pude rodar com o carro em ambiente urbano, e ainda fiz uma bate-e-volta com ele a Guapimirim, em uns 160 km de viagem por ótima estrada e com quatro adultos a bordo.

Quando fui retirar o carro na concessionária, me impressionei um pouco com seu porte. Uma impressão reforçada pelo corredor estreito entre a garagem da empresa e o pátio da frente, por onde o carro passou com os retrovisores bem rentes às paredes, aliás. Além disso, como vocês podem ver nas fotos, o carro era branco e, assim como listras horizontais na roupa costumam “engordar as pessoas”, o branco, acho eu, “aumenta” o tamanho dos automóveis. É bem provável que exista até uma teoria para justificar isso, envolvendo a maior refração da luz, algo assim, mas vou poupá-los dessa nerdice cromática.
Outro aspecto que me impressionou foi a quantidade aparentemente enorme de possibilidades de ajustes – quase todos disponíveis apenas por meio da tela de 12,8 polegadas, sensível ao toque, da multimídia. Como nos outros BYD, ela pode ser usada tanto na horizontal (que eu acho mais interessante, talvez pela prática com outros carros) quanto na vertical, como um tablet. Lindo, mas até você identificar e memorizar a posição dos itens que realmente vai usar, pode ficar um pouco confuso. Especialmente com o carro em movimento.

Mas talvez a primeira boa impressão que esse sedã passa é o seu ótimo padrão de acabamento interno. Quase tudo passa a impressão de capricho e de qualidade. As partes estofadas ou revestidas com material suave ao toque parecem ser mais abundantes que as de plástico duro. E é até difícil identificar a diferença, sem usar as pontas dos dedos, pois os materiais são bem bacanas e bem montados.
Além disso, os bancos nesse GS são forrados por um material semelhante ao couro, de contato agradável, e com um padrão preto e branco que parece aumentar a sensação de espaço. Nada muito extravagante, na verdade, o estilo é mais para o conservador classudo, mesmo. Há regulagens elétricas para os bancos da frente – que têm os apoios de cabeça integrados e são um pouco estreitos, mas que se casaram perfeitamente com o meu biotipo (alto e magro). A posição de dirigir é ok, nada espetacular, mas não cansa e todos os comandos telas estão ao alcance dos olhos e dedos.

Há comandos – como os ajustes do câmbio e modos de direção – em um console entre os bancos, carregador sem fio para celular e todos os recursos normais desse tipo de carro, como acendimento automático dos faróis e limpadores de para-brisa. Mas o espelho retrovisor interno não tem sistema antiofuscante automático – e sim uma daquelas hastes que se puxa para trás para desviar o foco dos faróis dos outros carros.
O espaço para quem viaja atrás é generoso, há saída de ar-condicionado para esses passageiros e tomadas para recarregar smartfones. No mais, a qualidade do som a bordo é boa, o isolamento acústico e térmico bem eficiente e o ar-condicionado bem forte.

Colocando o BYD King em marcha
Quando saí da concessionária, direto para uma rua de trânsito pesado no coração da Zona Sul carioca, havia cerca de meio tanque (cabem 48 litros de gasolina nele) e uns 15% de bateria exibidos no painel. Por sugestão do profissional que me entregou o carro, ajustei o modo de condução do King para o modo híbrido, que dá prioridade ao motor elétrico, mas também cuida de manter a bateria abastecida, e fui em frente. No final do teste, sem ter abastecido a bateria em tomada (coloquei apenas mais uns 15 litros de gasolina no tanque), devolvi o carro com 75% da carga – ou seja, havia sido recarregada pelo motor a combustão.
Suave, alternando automaticamente a propulsão entre o “elétrico puro” e o combinado com a combustão, o sedã avançou pelas ruas como um bom “estilo executivo”. Ele tem sempre uma generosa quantidade de torque disponível para ganhar ou retomar a marcha, e usa seus recursos de acordo com a necessidade (ou demanda do pé direito). No trânsito, é um pouco menos prático do que um modelo menor, como um hatch compacto, claro. Mas está longe de ser um trambolho que dificulte mudanças de faixa ou manobras de estacionamento. E, por outro lado, é extremamente confortável e, vale reconhecer, com personalidade suficiente para impor respeito aos demais veículos.

Dias depois, na estrada, com quatro adultos a bordo e máxima de 110 km/h em boa e desimpedida rodovia, eu poderia avaliar um outro lado, bem mais empolgante do King. Nesse ambiente, os pouco mais de 33 kgfm de torque e 235 cv totais, dos dois motores funcionando em parceria, fazem o carro acelerar com ânimo e disposição.
O peso – são 1.620 kg – se faz sentir nas acelerações e frenagens mais fortes, sem grandes oscilações, mas na sensação de transferência, mesmo. Até porque o carro é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 7,3 segundos e suas retomadas – como as que fiz várias vezes, entre 60 e 110 km/h – são muito rápidas. O peso, porém, é um aliado que joga o centro de gravidade do King lá para baixo, e com isso ele passa uma ótima sensação de estabilidade. A impressão é de que seria fácil – e seguro – viajar a uns 150 ou mais km/h com ele, sem maiores incômodos. O que destoa um pouco é a direção com assistência elétrica. Eficiente, mas exagerada na, digamos, anestesia, deixando o motorista sem uma sensação de contato real com a pista.
Consta que, em velocidades normais, ele faz 14,7 km litro na estrada e 16,8 km/litro na cidade – sim, híbridos costumam ser mais econômicos nas ruas do que nas rodovias. Na verdade, eles são projetados para isso.
Para o para e anda dos congestionamentos, por exemplo, o sistema do King inclui um start-stop, que desativa o motor a combustão, se por acaso ele estiver funcionando no momento. Aliás, essa alternância e/ou parceria entre eletricidade e gasolina, nos carros desta marca, vale uma explicação.

Como é o sistema híbrido da DM-i da BYD
Como outros modelos da marca, o sedã King traz uma tecnologia própria para híbridos desenvolvida pela BYD e que se chama DM-i. Ela combina um motor a combustão com uma bateria Blade da própria empresa e outro motor, elétrico. Até aí, nada demais, só que, segundo a marca, esse conjunto proporciona eficiência, desempenho e autonomia superiores aos de seus concorrentes, dando sempre prioridade ao uso da porção elétrica de sua propulsão.
O motor a combustão é um 1.5 aspirado a gasolina, que funciona no ciclo Miller – diferente do usado pela Toyota, que opera no ciclo Atkinson, e também dos que equipam a imensa maioria dos carros, que trabalham no ciclo Otto. Resumidamente, no Miller, a fase da expansão, em que os pistões transmitem a força à transmissão, é mais longa que a da compressão (para quem quiser se aprofundar, recomendo este artigo da Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_Miller).

Simplificando muito, a ideia é fazer com que esse motor a combustão, além de empurrar o carro, seja o mais eficiente possível funcionando como um gerador para alimentar a bateria que alimenta o motor elétrico. Com isso tudo, a BYD diz que o King GS, que conta com uma bateria de 18,3 kWh, tem autonomia de até 1.200 km e pode (aí quem atesta é o INMETRO) rodar 80 km apenas no modo elétrico. Na medição pelo padrão chinês, isso daria uma média de 25,6 km/litro de gasolina.
Guiando o carro no dia a dia, você acaba percebendo pelo som quando o carro está rodando no modo elétrico (fácil, fica muito mais silenciosos), híbrido “gerador” (aí o motor funciona em uma mesma rotação, o tempo todo, independentemente do movimento) ou híbrido “normal” (quando os dois se juntam para empurrar o carro). Pelo som e, claro, pelo painel de instrumentos, se ele estiver no modo de monitoramento do funcionamento do sistema.
Acompanhar isso tudo, aliás, acaba sendo até divertido. Pelo menos por um tempo. Depois você se acostuma e nem dá muita bola para tanta tecnologia. Só aproveita os seus resultados.

E o que é que o BYD King não tem?
Ele não tem os chamados recursos ADAS – do inglês Advanced Driver-Assistance System, ou no português direto, sistema avançado de assistência ao motorista. Provavelmente para manter o preço do carro mais baixo – e competitivo –, a BYD aliviou o King de alguns desses detalhes, presentes no concorrente da Toyota, por exemplo. No rival há alertas de ponto cego, de mudança de faixa e de tráfego cruzado à traseira; frenagem autônoma de emergência e piloto automático adaptativo – o ACC, capaz de manter automaticamente uma distância predeterminada do veículo à frente.
Por outro lado, o King conta com sofisticado um sistema de câmeras com visão 360 graus e sensores que, pelo menos no trânsito, acaba fazendo o papel de um aviso de ponto cego pois, por exemplo, detecta, soa um sinal sonoro e coloca na tela da multimídia a imagem de motocicletas, pedestres ou ciclistas que estejam no entorno do carro (além de outros carros, claro). À noite, esse sistema até liga as luzes sob os retrovisores externos quando você está passando por um caminho estreito – como o acesso à minha garagem – iluminando as paredes ao redor, o que ajuda muito, diga-se.

E, claro, além desses, há todos os itens obrigatórios, como controles de tração e estabilidade e auxiliar de partida em rampa, além de seis air-bags. E também outros, apresentados como “Frenagem inteligente” e “Distribuição eletrônica da força de frenagem” que me parecem ser sistemas comuns aos carros híbridos, pois também atuam na recuperação de energia.
E então, o BYD King GS vale a pena?
Vale. Embora seu preço “cheio” seja de R$ 191.900, desde o lançamento, promoções e descontos têm sido comuns – em maio, por exemplo, era possível adquirir um BYD King GS por R$ 171.900. E, mesmo com o aumento dos impostos de importação chegando em breve, a marca já anunciou que seu navio, com 7 mil unidades de seus modelos a bordo, vai aportar no Brasil antes disso, o que faz prever que os preços não vão subir, pelo menos nos próximos meses.

Como comparação, o Toyota Corolla Altis Hybrid está saindo hoje (dia 5/6/25, no site da marca) por a partir de R$ 199.990 – ou “duzentos mil”, no popular. E, apesar de contar com os tais recursos ADAS mencionados (e que eu julgo muito importantes, que fique claro), ele não é um híbrido recarregável (plug-in) e nem tem autonomia relevante em modo elétrico.
Para não dizerem que eu deixei alguém de fora, lembro que também está no mercado, importado, outro sedã híbrido do mesmo porte, o Caoa Chery Arizzo 6 Pro Hybrid Max Drive – que custa bem menos, R$ 140 mil, mas é do tipo híbrido leve, ou seja, está em uma categoria ainda mais abaixo (simples) que o Corolla, em termos dessa tecnologia.
É claro que, ao comprar um carro, a gente não leva em conta apenas os números frios. E, no caso do Toyota, há muitos outros predicados em jogo. Um deles é sua justificada boa fama no mercado, especialmente pela qualidade – não por acaso, a marca agora está oferecendo 10 anos de garantia para seus modelos (mas ainda não li as letrinhas miúdas para saber exatamente o que isso cobre). Também por isso, em termos de valor de revenda, o Corolla ganha fácil.

Mas como não estou aqui para tratar carro como investimento, ou, pelo menos, não é esse o nosso foco principal, acho que nas demais características, o BYD King se equipara e até supera o rival. É um carro ótimo de se dirigir, muito confortável, cheio de tecnologia e que, a depender de seu uso, pode sair barato de manter. Especialmente se você tiver um carregador para sua bateria na garagem. E, a julgar pela (grande) quantidade deles que tenho visto nas ruas aqui do Rio, essa combinação anda fazendo sucesso.
