Stock Car: os carros evoluíram, as pessoas também
- Alexandre Kacelnik
- há 20 horas
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Por Alexandre Kacelnik

Na última terça-feira, 22 de abril, a Stock Car completou 46 anos. A principal categoria do automobilismo brasileiro começou a correr com Opalões 4.1 adaptados – os legítimos stock cars, carros vendidos nas lojas –, e semana que vem a abre a temporada 2025 estreando em Interlagos um moderníssimo carro de corrida 2.1 turbo de mais de 500 cavalos. Uma evolução gigante. Eu comecei a trabalhar na categoria em 2001, ano em que estrearam os motores V-8 de corrida, e os chassis já eram desde o ano anterior tubulares, um projeto que veio a substituir os Omega, últimos carros de estoque.
Também em 2001 a Stock Car passou as ser um produto Globo, com pacote comercial e transmissão de TV aberta. A Texaco comprou a cota principal da TV e tinha como piloto o então bicampeão Chico Serra (foto de abertura). Eu era responsável pelo projeto de Fórmula Indy patrocinado pela Souza Cruz – cigarros Hollywood – em uma grande assessoria de imprensa, onde coordenava área de esportes. Com a proibição da propaganda e patrocínio de marcas de cigarro, mais um calote do meu querido Flamengo, que era nosso cliente nessa época em que os calotes no futebol eram o padrão, o meu núcleo de esportes se esvaziou consideravelmente.

Ainda no início de 2001, minha mulher anunciou que estávamos grávidos da Bia, e eu, que tinha trabalhado 46 dos 52 fins de semana de 2000, decidi que não queria ser um pai (tão) ausente. Saí da grande empresa de comunicação e consegui entrar com minha empresa na assessoria de imprensa da Texaco na Stock Car.
Estava no mesmo projeto em 2008, já com Thiago Camilo e Giuliano Losacco como pilotos da Texaco, quando a empresa foi vendida para a Ipiranga. Desde 2009 trabalho para a Ipiranga, e semana que vem começo minha 25ª temporada na Stock Car, no mesmo projeto.
Vinte e cinco temporadas e muitos amigos nos bastidores
Convivi com grandes pilotos, muitos vindos da Fórmula 1, como Rubens Barrichello e Felipe Massa; conheci muitas celebridades, artistas e atletas convidados para as provas. Fiz muitos amigos entre mecânicos e engenheiros das ‘minhas’ equipes. Mas o que eu gostaria de lembrar nessa vida nos autódromos nesse aniversário é a amizade e a troca de experiências com meus colegas jornalistas.
É um sentimento bom de testemunhar como a Stock Car serviu de escola para muitos profissionais. Dos repórteres da Globo que cobriam Stock Car é fácil citar o Tadeu Schmidt, que veio de Brasília para cobrir a categoriar, depois foi para Fórmula 1 e de lá para voos mais altos como Fantástico e Big Brother; a Mariana Becker, que também foi para Fórmula 1 e lá se tornou referência mundial; Clayton Conservani, que se tornou o principal repórter-aventureiro do país, Felipe Diniz, hoje um dos principais apresentadores de futebol do SporTV, e tantos outros como Edson Viana, Filipe Cury, e mais recentemente o Thiago Fagnani, já na Band (para onde a Stock se mudou em TV aberta em 2021) só para falar dos que cobriram temporadas inteiras.
Narradores que cresceram muito como Bruno Fonseca e o Henrique Guidi. Luc Monteiro, que representa dinastia de profissionais de Cascavel junto com Osires Jr. E a Stock Car também me permitiu reencontrar o Sérgio Maurício, com quem joguei vôlei nas categorias mirim e infantil da Hebraica Rio. Ou seja: a gente é amigo há quase cinquenta anos.
Mais os produtores como a Erica Hideshima, que vai bem tanto na gasolina quanto nos esportes olímpicos. Ou o Rafa Lopes, que hoje é comentarista, Fred Sabino que manda na F1, Alexander Grunwald, que se tornou um multiprodutor de conteúdo, e por aí vai.

Tão especial quanto testemunhar a ascensão dos que entraram jovens na Stock Car foi observar que grandes, enormes profissionais que vinham da Fórmula 1, como o narrador Luís Roberto e o comentarista Reginaldo Lem (acima) e, nunca, em momento algum, agiram em relação à categoria nacional como se fosse uma coisa menor. São caras que além de serem humildes dentro do autódromo, passando de box em box para se informar, sentam pra comer a bater papo (e por que não, tomar uma cerveja) num restaurante de Cascavel ou Mogi Guaçu como se estivessem em Paris.
Voltando aos mestres do jornalismo de corridas, só o Regi continua frequentando a Stock Car esporadicamente – porque há muitas datas coincidentes com a Fórmula 1. Lito Cavalcanti já não vai mais, Marcus Zamponi nos deixou há uns bons anos e devo estar esquecendo de um monte de gente, porque eu mesmo hoje sou um decano na sala de imprensa.

E aí entra, com um cafona last but not least, a sala de imprensa, meu local de trabalho, onde fiz e continuo fazendo amigos, e o mais legal é que são amigos/concorrentes. Quando eu cheguei havia nomes históricos da assessoria de imprensa de automobilismo como Fátima Paiva, o próprio Zampa e Márcio Fonseca, que está torcendo pelo Santos em outro plano.
Mais Otazu, Allan Magalhães, eu no meio do caminho, com trinta e tantos, e um bando de garotos que na assessoria e/ou no jornalismo voaram e voarão ainda mais alto: meu afilhado de casamento Rodrigo França, Tiago Mendonça, Cassio Cortes, Claudio Stringari, Fernandinha Gonçalves, Glauce Schutz, Luis Ferrari, Beatriz de Paula, Bruno Império, Alfredo Bokel, Bruno Vicária, Cleber Bernucci, Flávio Quick, Guto Mauad, Patricia Casagrande, Ricardo Fávaro, Daniel Betting, os que eu acho que chagaram agora mas já estão há uns dez anos como o Chaguri, a galera dos grandes sites como Erick Gabriel, Carlos Costa, o Victor Martins que não vai mais no autódromo, o Fernando que trabalhava pro Victor, passou pro lado de cá do balcão e ajuda demais a gente. Enfim, acho que não citei nem a metade.

Como disse, são 25 temporadas. Dos chefes da sala de imprensa – os assessores da Stock Car, que muitas vezes têm que dizer não e impor limites aos colegas, uma função duríssima – lembro agora do Doro, o Braga, Miltão Alves, Ricardo Ribeiro e o atual mandachuva, Rodolpho Siqueira.
PS. E aos fotógrafos, muitas vezes relegados a um plano menor, eu falo do fundo do coração: sem vocês, meus amores, eu não sou ninguém. No esporte, imagem é tudo. Comecei minha vida profissional em revistas da editora Bloch, Fatos & Fotos e Manchete, e sei bem disso. Automobilismo não é fácil para os fotógrafos, os carros estão a 200 km/h, os pilotos de capacete, muitas vezes uma expressão tem que ser captada nos olhos, por trás da viseira, no grid de largada.
Paralelamente ao trabalho de assessoria, editei durante muitos anos a belíssima revista Speedway do amigo Alex Ruffo, que também me ensinou muito sobre imagem. A despeito da dificuldade em adquirir equipamentos de ponta – dei uma fuçada rápida no Google e uma lente 400mm 2.8 da Canon custa em torno de R$ 80 mil no Brasil -, nossos fotógrafos são craques de nível global. Aquele abraço, Miguel Costa Jr., Luca Bassani, Carsten Horst, Bruno Terena, Zé Mário Dias, Rafael Gagliano, meu enorme (duplo sentido) amigo Fabião Oliveira, Marcus Cicarello, Vanderley Zoião Soares, Ricardo Saibro, Rodrigo Guimarães e tantos outros.
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